Os peruanos são muito festeiros e costumam celebrar cerca de três mil festas populares ao ano, a maioria em homenagem a algum santo padroeiro, expressando perfeitamente a crença em Deus da população, a maioria católica, uma das heranças dos espanhóis.
As procissões, ritos, carnavais e outras festividades pagãs, vinculadas a mitos ancestrais das comunidades indígenas, também são muito comuns e buscam celebrar a liberdade e o respeito à natureza.
As festividades em todo o país, assim como no Brasil, começam no dia 1 de Janeiro, com a celebração do Ano Novo. Outra festa cristã que se destaca em todo o país é a Semana Santa, que pode ocorrer entre março e abril. Em maio, a homenagem às mães é feita no segundo domingo de maio e o Dia dos Mortos é comemorado no dia 1 de novembro. Já os festivais locais são comemorados em várias épocas do ano e cada um possui sua importância cultural. Conheça algumas dessas celebrações que são realizadas pelo país ao longo do ano.
O Senhor dos Milagres
A festa tem origem nos tempos coloniais, em 1661, quando um escravo vindo de Angola desenhou a imagem de um Cristo negro nas paredes da cabana onde dormia, no bairro de Pachacamilla, em Lima. O desenho, após muitas tentativas para apagá-lo, permanecia na parede mesmo após o forte terremoto de 1746. A veneração pela imagem só cresceu e é a mais adorada na região atualmente. Sua procissão, realizada nos dias 18 e 28 de outubro com fiéis vestidos com túnicas roxas, é uma das maiores de toda a América Latina.
Inti Raymy
Comemorada em 24 de junho na cidade de Cuzco, um dos dias mais curtos no Hemisfério Sul, o Inti Raymy é uma das maiores celebrações em homenagem ao deus Sol, muito importante na cultura Inca. O povo Inca organizava a festa ao ‘Pai Sol’, pois tinha medo que o deus Sol os abandonasse. As principais festas acontecem nas ruínas de Sacsahuaman.
As cerimônias também ocorrem no Koricancha, o Templo do Sol, na Praça de Armas e em Haucaypata. Os participantes das festividades se reúnem ao meio-dia em Sacsahuaman, junto com os milhares de turistas que chegam ao local para participar desta grande festa, quando duas lhamas são sacrificadas.
Corpus Christi
Comemorada em todo o país, a festa é mais impressionante em Cuzco. A festa começa com a chegada de 15 santos e virgens, que vêm em procissão de todo canto da cidade, à Catedral de Cuzco, na Plaza de Armas, para saudar o corpo de Cristo.
Ao longo do dia, o sino da catedral é tocado. Antes do dia 12, à noite, os pratos típicos são preparados e consumidos. As procissões acontecem no dia 12 de junho, por volta das 11 horas. Depois de uma semana, uma nova procissão leva de volta os santos.
Festa da Virgem de Carmen ou Mamacha Carmen
Realizado entre 15 e 18 de julho, em Paucartambo, próximo à cidade de Cuzco, milhares de devotos comemoram o dia da Virgem del Carmen, conhecida como Mamacha Carmen, a padroeira da população mestiça.
A festa dura cinco dias, com apresentações de companhias de dança, com dançarinos vestidos em trajes típicos coloridos, músicos e corais cantando na língua nativa quéchua e coreografias que contam os acontecimentos da história do Peru. No dia principal, a imagem da Virgem é transportada durante uma procissão para abençoar os presentes e para espantar os demônios. O evento termina no cemitério, para homenagear as almas dos mortos.
Festa da Virgem da Candelária ou Candelária Mamacha
Esta festa, realizada por 18 dias em Puno, às margens do Lago Titicaca, reúne mais de 200 grupos de músicos e dançarinos para comemorar a Candelária Mamacha. O festival, ligado aos ciclos agrícolas de semeadura e colheita, é realizado em duas partes. Nos primeiros nove dias, os organizadores decoram a igreja, preparam os banquetes e os fogos de artifício. No dia 2 de fevereiro, o dia principal da festa, a imagem da Virgem é levada pelas ruas da cidade numa procissão bem colorida.
Durante o cortejo é realizada a dança dos demônios, ou Diablada, a dança principal da festa. Ela teria sido inventada por mineiros presos em uma mina, que teriam abdicado de suas almas para a Virgem da Candelária. Os dançarinos vestem fantasias e máscaras bizarras e assustadoras, enquanto fazem as oferendas à deusa terra Pachamama.
Dia de Todos os Santos
Esta homenagem dedicada aos mortos é feita em todo o país, mas em Pirua, o culto aos mortos é feito de um jeito diferente. Os moradores se reúnem na praça principal, levando seus filhos. Quando uma pessoa presente encontra uma criança que se parece com uma criança de sua família que já faleceu, ela entrega alguns doces como presente, entre eles batata doce cristalizada ou doce de coco.
Esses presentes estão embrulhados em sacos decorados, chamados de ‘anjos’. Nas cidades de Arequipa e Junín, esses sacos de doces são substituídos por bread rolls, ou brioches, em forma de bebês, conhecidos como wawas t’anta.
O Senhor dos Tremores
A celebração em homenagem ao Senhor dos Tremores, ou Senhor do Terremoto, é realizada durante a Páscoa, na cidade de Cuzco, desde 1650, quando os fiéis clamaram à imagem de Cristo instalada na Catedral de Cuzco durante um forte terremoto. Daí o nome da imagem, que é transportada pelos fiéis durante uma procissão pelas ruas da cidade. Ao final do trajeto, a flor ñucchu é usada como referenda aos deuses. A mesma flor é usada para compor a coroa para o senhor dos Terremotos e simboliza o sangue de Cristo. A imagem de Cristo, doada pelo rei Carlos V, após vários séculos exposta à fumaça das velas, se tornou enegrecida, dando o nome à imagem de Cristo Negro.